Americanah – Chimamanda Ngozi Adichie

Mais um livro maravilhoso da Chimamanda!

Diferente de Hibisco Roxo (resenha aqui), Americanah é um livro muito mais leve, mas não deixa de tocar em assuntos sensíveis. É uma leitura muito tranquila, nem parece que o livro tem 500 páginas.

Americanah é a história de Ifemelu desde a adolescência. Há partes do livro mais detalhadas, e períodos que são contados superficialmente. Obinze é um personagem super importante da história, mas para mim o livro é a história dela (o amor deles é parte dessa história).

No começo do livro, a história transita entre o passado e o presente. O passado de uma adolescente de opiniões fortes na Nigéria e seu crescimento e o presente, uma mulher bem-sucedida que vivia há 13 anos nos EUA. A trajetória de vida de uma imigrante mulher negra, passando pelos perrengues (perrengues punks) e coisas boas da vida de imigrante, e a decisão de largar a vida confortável que tem para voltar pra Nigéria.

Duas questões principais são discutidas no livro: racismo e imigração.

Esses temas são discutidos principalmente do ponto de vista de uma mulher (Ifemelu) que se descobre negra, e descobre o racismo, após imigrar para os EUA.

Ifemelu aborda o racismo em diferentes situações, através de posts em seu blog, com a visão de uma negra não americana, mostrando como representatividade é importante. E apesar da história se passar nos EUA, poderia ser muito bem no Brasil.

A imigração também é discutida a partir da imigração ilegal. Eu achei especialmente interessante a vida de um imigrante ilegal, principalmente por ser um tema tão atual. É bom ter a perspectiva de quem passou por isso (é ficção, mas ainda é o outro lado do que é mostrado todo dia na mídia). Sobre a imigração, em tempos em que temos Trump querendo negar que pessoas de alguns países entrem nos EUA e deportar outros, em tempos que ouvimos de político brasileiro (nem preciso falar quem foi, né?) que imigrantes são “a escória do mundo“, ler sob o ponto de vista de um imigrante ilegal, que só quer realizar o sonho de morar em outro país e melhorar de vida, pode causar um pouco de empatia nas pessoas.

Estamos tão acostumados com narrativas de pessoas brancas, de preferência eurocentradas, que a leitura de Chimamanda é um exercício para ver outros mundos e outras pessoas. Chimamanda nos apresenta uma narrativa diferente da qual estamos acostumados, a história é narrada e vivenciada por negros. Traz a tona discussão sobre racismo e imigração com a leveza do romance.

americanah

Esse é o segundo livro que leio e conscientemente sei que os personagens são negros. Estamos tão acostumados com a literatura branca, que preciso fazer um certo esforço para imaginar meus personagens como eles são. Ler Chimamanda é um exercício de ir contra várias “histórias únicas” (assistam o TED dela). É ler livros e saber que os personagens são negros, e ler imaginando eles como eles são. É ler histórias sobre um país africano (nesse caso a Nigéria) e assimilar isso como sendo daquele país. A maioria de nós fomos bombardeados com imagens da África (como se fosse uma coisa só, um grande país, e não um continente), como um lugar de muita pobreza, fome, AIDS, deserto. A capital de Lagos tem mais de 5 milhões de habitantes! Não se encaixa na imagem que nos passaram de uma cidade africana. Sim, há tudo aquilo que nos mostraram, mas tem muito mais. Quando penso sobre como a nossa visão é limitada, entendo porque algumas pessoas acham que o Brasil é um país bárbaro, em que ainda moramos na mata e temos macacos de estimação.

Eu recomendo ler Chimamanda para sair da zona de conforto. A leitura de Americanah é fácil, e não é por nada que foi selecionado pelo New York Times como um dos 10 melhores livros de 2013.

Então, você já leu? O que achou? Conhece algum outro livro da Chimamanda? Deixa tua opinião nos comentários.

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Um comentário sobre “Americanah – Chimamanda Ngozi Adichie

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